09 novembro 2011

aprendi com Gil Grissom

uma coisa interessante sobre séries de tv é que quase sempre explora-se com certa subjetividade o comportamento dos personagens e suas relações na trama. normalmente os autores utilizam a trama principal como apoio para desenvolver outra mais profunda.

uma série da qual sou fã é CSI Las Vegas. por muitas temporadas a equipe de investigadores forenses foi comandada por Gil Grissom. um personagem peculiar que diferencia a série original das suas spin off, Miami e New York. Grissom é entomologista, observador, meio surdo, procura entender o caráter das pessoas ou invéz de julga-las e acredita na ciência. vem dele a base ética e filosófica da equipe: "pessoas mentem, as evidencias não". ele é uma inspiração para seus subordinados, os deixa a vontade para fazer seu trabalho ao mesmo tempo que sabe cobrar resultados. mais que isso, seus subordinados tem vontade de solucionar o caso ou no mínimo participar da solução.



subjetivamente CSI revela muito sobre o processo de trabalho de um criativo. perceba: o episódio começa com um cadáver (problema), a equipe chega ao local do crime para processar o local (pesquisa, observação, coleta de informação), volta ao laboratório para análise de resuldados e primeiras hipóteses (rascunhos, layouts, brainstorm, criatividade), as informações são unidas e revelarão se o corpo é uma vítima de homicídio, acidente, etc (primeiros layouts, aprovação com cliente), finalmente chegam ao "vilão" e fim da história (finalização, veiculação).

mas o que eu quero destacar é a maneira como Grissom conduz sua equipe. quando chegam a crime scene cada membro da equipe conhece seu papel, sabe como agir, tem autonomia e a atitude de "chegar junto", querer saber, entender. tem motivação para resolver o problema que no caso é algo muito bonito como ajudar as pessoas. o gerente desta equipe é um líder.

outra série que me chamou atenção e foi o motivo pela qual resolvi escrever sobre isso é The Closer. não sou fã, assisti apenas alguns episódios e não tive vontade de ver mais. há uma tendência entre séries de detetives a destacar o personagem principal de modo que ele é sempre um mega-gênio que resolve tudo sozinho (as vezes atrapalhando os demais). em The Closer a personagem principal (a "closer" do título) é Brenda Johnson, chief da Unidade Especial de Crimes Hediondos em Los Ângeles.



Brenda é a gênio da equipe. todos a obedecem mas principalmente aguardam suas ordens: numa cena de crime vinte sujeitos orbitam Brenda aguardando instruções, sem atitude, sem autonomia. aparentemente sem as ordens da chief ficariam de braços cruzados esperando o corpo esfriar (literalmente).

essa forma de trabalho é bem estranha porque a equipe não trabalha pelo caso, pelo job, pelo cliente, pela qualidade. trabalha na órbita de alguém que centraliza todas as decisões e informações sobre o caso e, é claro, chega a solução sozinho, seja ela um mistério de assassinato ou a idéia criativa sobre uma campanha. os outros personagens, seja por falta de vontade própria ou pela obrigação hierárquica, não tem recursos para para dar suas próprias sugestões não estando cientes de todos os detalhes. a esse personagem cabe apenas fazer o que lhe pedem.

me pergunto qual é a vantagem de estar numa equipe assim. é só pelo salário? porque portfólio você não vai estar montando quando todas as idéias geniais vem da mesma pessoa e ficar parado aguardando as ordens também não acrescenta ao trabalho. esse conceito fica muito bonito na tv mas é contraproducente em matéria de design em equipe onde o problema e a solução devem ser o grande motivador que rompe a inércia.