22 março 2010

somos todos micreiros

participei do edted – encontro de design e tecnologia digital. o evento é voltado para o webdesign mas as dicas e questões levantadas podem facilmente ser aplicadas em qualquer ramo da profissão, afinal o webdesign é uma área de atuação do design, certo? na prática, nem tanto.

o que eu sinto (e sinto desde a faculdade) é que há uma enorme dificuldade dos profissionais encararem seu ofício de forma efetivamente profissional e isso acontece em parte porque somos todos micreiros. este termo, que costumava ser usado pejorativamente para se referir aquele jovem que sabia muito de coreldraw e nada de gestalt, aos poucos foi substituido por "sobrinho". ninguém mais fala "micreiro". eu digo que somos micreiros porque eu já fui um. assim como muitos da minha geração, tivemos os primeiros contatos com o design via computador antes de qualquer estudo da forma. mas isso já tem mais de 10 anos! então porque continuamos precisando de palestras para dizer o que deveríamos ter aprendido na faculdade?

exemplo:
a palestra de acessibilidade de Horacio Soares (slides em http://migre.me/q0Cy) apresentava a dificuldade de pessoas com limitações físicas para acessar o conteúdo de um site e acabava por estender o assunto para fora do mundo virtual jogando a questão no dia-a-dia com exemplos como código de barras sendo lido por velhinhas ou flash que não roda em celular. o que segundo Horácio (e eu concordo com ele) a fonte desse problema são os designers que não pensam no que estão fazendo e simplesmente copiam modismos e "modo de fazer". um raciocínio parecido foi exposto pelo Luli Radfahrer (entrevista) ao dizer que o "o webdesigner continua trabalhando como em 1996".

o ponto onde quero chegar é o seguinte: acessibilidade deveria ser intrínseca ao design! anos depois do boom da internet e depois que micreiros se tornaram (web)designers, nosso trabalho vem sendo confundido com "tornar mais bonito" quando deveria significar "projeto". hoje é tudo misturado – a tal multidisciplina – o que é natural e eu concordo, pois amplia nosso campo de atuação, afinal é impossível um webdesigner projetar um site sem conhecer o mínimo de programação, assim como um designer gráfico em relação a produção gráfica. um ótimo exemplo colocado foi o do recém lançado portal Brasil que não considera que grande parte dos internautas brasileiros acessam a web via internet discada.

vejo isso como um gravíssimo problema que vem tomando proporções perigosas nos últimos tempos: é o marketeiro, o publicitário, designer, o comunicador, que não conhece seu público e nem pensa nele. Washington Olivetto dizia que o bom publicitário tem que andar de ônibus. com certeza, precisa andar de ônibus, ir a feira, andar de bicicleta, dar uma olhada na micareta, no baile funk, na rave, ir ao cinema, etc e precisa planejar, refletir, pensar em como o público vai se relacionar com seu trabalho. isso é psicologia da percepção e não se trata apenas de deixar mais bonito. estética é consequencia.

se você é designer, minha sugestão é: pare e pense antes de produzir. não há nada de errado em se deslumbrar com a tecnologia, mas empurrar isso a um público que não está interessado ou até mesmo despreparado é dar um tiro no pé. (pensou em second life? 0/ )

chega de pedras. vamos aos elogios.
eventos assim são sempre uma ótima oportunidade de encontrar amigos e principalmente dar uma refrescada nas idéias nos obrigando a rever conceitos e duvidar de certezas. gostei muito das palestras do já citado Horacio Soares (@horaciosoares), da Martha Gabriel (@marthagabriel) que falou sobre cores e do Luli (@radfahrer).
além de simpática, nota-se que a Martha tem muito conteúdo e sua forma eloquente de falar me deixou "ligadão". os exemplos de aplicação 3D impressionaram. (entrevista com ela)
e você, é um micreiro ou um designer? deixe sua opinião para continuarmos refrescando idéias. abs.

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